segunda-feira, 8 de julho de 2013

Um aviso da Espiritualidade

Por Nazareno Tourinho

Prossigamos o nosso passeio revelador pelas páginas da Coleção da Revista Espírita editada no tempo de Allan Kardec, tendo em mira o rastreamento dos passos de Jean-Baptiste Roustaing e sua única médium, Emilie Collignon.

Diante dos olhos temos agora o exemplar de dezembro de 1862. O codificador do Espiritismo o encerra com a seguinte nota:

“RESPOSTA A UM SENHOR DE BORDEAUX

“Um senhor de Bordeaux nos escreveu uma carta, aliás muito polida, contendo uma crítica do ponto de vista religioso ao artigo do número de novembro sobre a Origem da linguagem, o qual, diga-se de passagem, encontrou numerosos admiradores. Como a carta não traz assinatura nem endereço, fizemos o que se faz com toda carta sem nome: foi para a cesta.”

Não desejamos nós, e nem poderíamos em sã consciência, acusar Roustaing de ser o autor da carta muito polida que foi para a cesta por ser anônima. Entretanto, também não devemos nos furtar a uma judiciosa e oportuna observação: o artigo Origem da linguagem, que a missiva em tela procura desqualificar, é do Espírito Erasto, presente com os seus ensinos sábios nos diversos livros da Codificação; este Espírito, por seu médium habitual de Paris, transmitiu a Kardec, antes dele ir a Bordeaux em fins de 1861, uma Epístola para ser lida por ocasião da visita. O Codificador, no discurso proferido em Bordeaux, cidade onde viviam Roustaing e E. Collignon, fez a leitura de tal Epístola. Nela há trechos assim:

"Eis por que vos digo, com toda a efusão de minha ternura por vós, que ficaria desolado, ficaríamos desolados todos nós que, sob a direção do Espírito de Verdade, somos os iniciadores do Espiritismo na França, se viesse a desaparecer do vosso meio a concórdia de que até hoje destes provas brilhantes. Se não tivésseis dado o exemplo de uma sólida fraternidade; se, enfim, não fôsseis um centro sério e importante da grande comunhão espírita francesa, eu teria deixado esta questão na sombra do esquecimento. Mas se a levantei é que tenho razões plausíveis para convidar-vos à manutenção da união, da paz e da unidade de doutrina entre os vossos diversos grupos”.

“Tereis que lutar não só contra os orgulhosos, os egoístas, os materialistas e todos esses infelizes que estão imbuídos do espírito do século, mas ainda, e sobretudo, contra a turba de Espíritos enganadores que, encontrando em vosso meio uma rara reunião de médiuns, pois a tal respeito sois os mais aquinhoados, em breve virão assaltar-vos, uns com dissertações sabiamente combinadas, nas quais, graças a tiradas piedosas, insinuarão a heresia ou algum princípio dissolvente..."

"Ah! Crede-me, não temais desmascarar os embusteiros que, novos Tartufos, se introduziriam entre vós sob a máscara da religião..."

"Para isso necessitais de bons médiuns e aqui os vejo excelentes, em cujo meio só tendes que escolher. Certamente, bem o sei, a Sra. e a Srta. Cazemajoux e alguns outros possuem qualidades mediúnicas no mais alto grau, e nenhuma região, eu vo-lo repito, a este respeito é melhor dotada do que Bordeaux."

"Tive que vos falar assim, porque era necessário premunir-vos contra um perigo...". (Salvo a expressão Espírito de Verdade, todos os demais destaques em negrito são nossos. Revista Espírita de novembro de 1861).

Note o leitor que a essa altura a obra Os Quatro Evangelhos, de Roustaing, já estava sendo preparada por via da mediunidade de Emilie Collignon. O Espírito Erasto adverte contra o perigo de uma mistificação prejudicial à unidade da doutrina. Cita como médiuns confiáveis em Bordeaux, nominalmente, apenas a Sra. E Srta. Cazemajoux.

Algum tempo depois do fato um cidadão de Bordeaux escreve anonimamente para a Revista Espírita criticando determinada mensagem. De quem era a mensagem? Do Espírito Erasto!

Muito estranho...

Fonte:
TOURINHO, Nazareno.  As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.

Observação: A tradução da Revista Espírita aqui utilizada é do site IPEAK (Instituto de Pesquisas Espíritas Allan Kardec) e, por isso, possui pequenas diferenças da versão utilizada originalmente por Nazareno Tourinho.

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