segunda-feira, 8 de julho de 2013

Mediunidade suspeita e medíocre

Por Nazareno Tourinho

No mesmo número da Revista Espírita em que Allan Kardec discorda da opinião de Emilie Collignon (junho de 1862) ele publica, pela primeira vez, mensagem psicografada por essa médium, onde se lê estas palavras:

“Somos uma essência criada pura, mas decaída; pertencemos a uma pátria onde tudo é pureza; culpados, fomos exilados por algum tempo, mas só por algum tempo...” (todo o resto da mensagem é muito bem formulado filosoficamente, para esconder o embrião do cisma doutrinário que já estava sendo concebido).

O codificador do Espiritismo, que a essa altura ainda não havia recolhido do mundo espiritual o completo lineamento teórico da III Revelação, e por isso, a fim de apurar a universalidade dos ensinos, conservava-se aberto às novidades do Além provindas de várias fontes mediúnicas, após transcrever tal psicografia da Sra. Collignon faz uma observação dizendo que certas mensagens “para serem compreendidas e não darem lugar a falsas interpretações, necessitam de comentários e de desenvolvimentos”.

O próximo texto psicografado da Sra. E. Collignon, de Bordeaux, sai na Revista Espírita em novembro de 1862, preenchendo o espaço da seção intitulada POESIAS ESPÍRITAS. É tão ruim, tão medíocre, que não precisamos reproduzi-lo na íntegra, abusando da paciência do leitor, para demonstrar, em definitivo, a pobreza intelectual da madame Collignon e seus protetores invisíveis. Basta copiarmos os versos iniciais e os derradeiros. Ei-los:

“MEU TESTAMENTO
“Posto que rimado, creio que não será inferior,
“Compreendamo-nos. Nele o que exalto
“Não é a rima: que não é boa;
“É o espírito que...Ao diabo essa gíria!
“O espírito não é também o que me preocupa.
“Compreendam bem, por favor: só o espírito vivifica
“Assim, entendo este vocábulo.
“Eu, que não sou um deles, mas em breve serei – 
“Ao menos espero – queria comparecer,
“Não como um simples tolo,
“Mas como um pobre Espírito, humilde e arrependido,
“Pondo no meu Senhor toda a minha esperança
“E, contando, para chegar ao plano dos eleitos,
“Muito com sua bondade, pouco com minha virtude!
(.................)
“Antes de terminar, um salutar conselho
“Talvez aqui encontre o seu lugar:
“Que vos ilumine a voz da Caridade;
“Ligai pouco à opinião dos tolos.
“Do luxo enganador, que exibe o orgulhoso,
“Desconfiai sempre. Ao coração nada iguala
“A felicidade do dever cumprido.
“Ajudai a fraqueza do oprimido.
“Que vossa alma responda ao grito de aflição.
“Que haja um eco pronto a repeti-lo.
“Que a vossa mão, filhos, esteja pronta a aliviar.
“Com a ajuda do pouco ouro que entre vós eu partilho
“Acumulai tesouros para fazer a viagem,
“Da qual não regressa o Espírito virtuoso!
“Semeai benefícios e colhereis as virtudes
“Pedi ao Senhor suas luzes mais claras.
“Ide buscar irmãos por entre os infelizes
“E que Deus vos conceda, em sua grande bondade,
“Segui apenas a lei do Amor, da Caridade!...”

Eis aí o começo e o fim do poema mediúnico(?) da Sra. E.Collignon, de Bordeaux. Ele recorda esta deliciosa sentença de Allan Kardec, inserida em O LIVRO DOS MÉDIUNS, capítulo XVI, item 193:

“Médiuns versejadores: obtêm, mais facilmente do que outros, comunicações em versos. Muito comuns, para maus versos; muito raros, para versos bons.”

Fonte:
TOURINHO, Nazareno.  As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.

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