sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O Sonambulismo face a Doutrina Espírita


Por Maria das Graças Cabral

Muito comumente, ouvem-se relatos de pessoas que durante o sono falam e andam de olhos abertos, contudo inconscientes. O fenômeno é considerado pela medicina como uma doença denominada de “sonambulismo” ou “parassonia.” Caracteriza-se pela alteração de comportamento durante o sono, cuja causa ainda é um mistério para os especialistas. Por enquanto. as respostas eficientes restringem-se aos tratamentos disponíveis para o problema com uso de medicação nos casos mais graves, que põem em risco a segurança do paciente. 

Por outro lado, propaga-se uma ciência denominada de “projeciologia (do latim projectio significa projeção e logos no grego significa tratado) que é o ramo, subcampo, ou especialidade de caráter mais prático da conscienciologia, e da psicobiofísica (versão mais abrangente da parapsicologia) que estuda as projeções energéticas da consciência e as projeções da própria consciência para fora do corpo humano, ou seja, das ações da consciência operando fora do estado de restrição física do cérebro e todo o corpo biológico. Devido à falta de evidência científica e experimentos em condições controladas, à ausência de hipóteses e previsões que possam ser submetidas a teste ou ser falsificadas com o método científico, a projeciologia (assim como os outros ramos da denominada parapsicologia) é considerada uma pseudociência.” (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Projeciologia)

Observa-se portanto, o desenvolvimento de várias frentes de pesquisa por parte da ciência médica, como também por parte da parapsicologia, no intuito de compreender e esclarecer com eficiência o fenômeno sonambúlico. Na realidade, o sonambulismo é vivenciado por pessoas das mais diversas faixas etárias, graus de instrução, crentes ou não crentes, das mais diversas localidades do mundo, chamando atenção e provocando a curiosidade de estudiosos e leigos.

Diante do exposto, o presente artigo tem por objetivo desenvolver algumas breves considerações sobre o assunto, à luz da Doutrina Espírita. Para tanto, faz-se por oportuno inicialmente a apresentação de algumas experiências sonambúlicas divulgadas:

(I) “O artista plástico britânico Lee Hadwin, que só consegue desenhar enquanto está dormindo, lançou uma exposição de suas obras em Londres. Hadwin foi descrito pelos especialistas da Clínica do Sono de Edimburgo, na Escócia, como um caso único. Ele foi diagnosticado com sonambulismo e conta que não se lembra de absolutamente nada do que produz de madrugada. Hadwin nunca fez cursos de artes e afirma que nunca teve muito interesse por estas atividades. No entanto, enquanto dorme, ele desenha retratos, paisagens e figuras abstratas. Ele começou a desenhar durante o sono quando tinha 4 anos de idade, deixando suas marcas em paredes ou qualquer pedaço de papel que estivesse ao alcance. Atualmente, Hadwin se prepara melhor e deixa seus cadernos de desenho e materiais espalhados pelo apartamento onde vive e vem aperfeiçoando seus trabalhos nos últimos anos.” (Fonte: http://noticias.r7.com/internacional/noticias

(II) “Numa madrugada há pouco mais de 20 anos, o médico urologista carioca Luiz Otávio Zahar teve a sensação de acordar no meio da academia de ginástica que costumava freqüentar. As luzes estavam apagadas e não havia ninguém usando os aparelhos de musculação nem circulando pelos corredores. O médico percorreu o espaço de um lado para o outro, sentindo-se absolutamente consciente. Mas seu passeio noturno, segundo Zahar, tinha uma peculiaridade: ele via tudo do alto, como se estivesse suspenso, flutuando. (...)” 

“Naquela madrugada na academia, porém, Zahar resolveu pôr à prova a tese de que realmente conseguia como tantas outras pessoas dizem conseguir sair do corpo, manter o estado de vigília e usar os sentidos para observar coisas concretas. Eu não deixo de ser, fora do corpo, aquele médico cartesiano que sou que quer comprovar as coisas. Pensei: tenho de fazer alguma coisa para provar a mim mesmo essa experiência. Então vi um parafuso esquecido no alto de uma máquina de exercício. Acordei e anotei, conta. No dia seguinte, foi até a máquina. Para ver o que havia em cima dela, precisou subir em um banco. Do chão, era impossível enxergar. Subi e vi o parafuso lá.” (Fonte: http://super.abril.com.br/cotidiano/projecao-astral-viagens-fora-corpo)

(III) “O contador paulista Fernando Augusto Golfar, de 37 anos, afirma que vive projeções desde os 6 anos. Contava a seus pais episódios vivenciados por parentes já mortos com os quais falava durante as experiências e visões de lugares que lembrava ter visto dias antes de visitá-los com a família. Por via das dúvidas, a mãe o levou algumas vezes a uma benzedeira. As experiências prosseguiram. Geralmente me vejo em locais de assistência, hospitais, áreas carentes, enterros ou ajudando usuários de drogas, conta. Assim como Borges, Golfar afirma ter desenvolvido sua mediunidade. Para ele, isso ajuda em suas projeções astrais, mas não é um requisito fundamental.” (Fonte: http://super.abril.com.br/cotidiano/projecao-astral-viagens-fora-corpo

Diante dos casos acima expostos, e para que se tenha uma melhor compreensão do fenômeno à luz do Espiritismo, vale ressaltar um dos pontos principais da doutrina, quando estabelece que o ser humano seja composto de três elementos: “(1º) O corpo ou ser material, semelhante ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2º) A alma ou ser imaterial, espírito encarnado no corpo; 3º) O liame que une a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito. (...) O liame ou perispírito que une o corpo e Espírito é uma espécie de invólucro semi material.” (Livro dos Espíritos - Introdução, VI)

Na realidade, o tema proposto é tratado inicialmente em O Livro dos Espíritos, primeira obra da codificação kardeciana e posteriormente em O Livro dos Médiuns, segundo livro codificado. Em O Livro dos Espíritos, dizem os Mestres espirituais que durante o sono, em razão do repouso orgânico os liames que unem o corpo ao Espírito se relaxam. Como o Espírito não acompanha a inatividade orgânica passa a dispor de mais faculdades que no estado de vigília. (LE, 401)

O fenômeno sonambúlico sob o efeito do sono é conceituado como “um estado de independência da alma, mais completo que no sonho, e então as faculdades adquirem maior desenvolvimento. A alma tem percepções que não atinge no sonho, que é um estado de sonambulismo imperfeito.” (LE, 425)

De acordo com as explanações iniciais, foi visto que a medicina cataloga o sonambulismo como uma doença na qual o sonâmbulo é alguém que por predisposição orgânica executa atividades durante o sono. A esse respeito, esclarecem os Mestres espirituais que o Espírito “preocupado com uma coisa ou outra, se entrega a alguma ação que exige o uso do seu corpo, do qual se serve como se empregasse uma mesa ou qualquer outro objeto material, nos fenômenos de manifestação física, ou mesmo de vossa mão, nas comunicações escritas.” (LE, 427) Ou seja, o Espírito utiliza-se do corpo físico como um instrumento para a realização de alguma atividade que deseje praticar. 

No que tange à clarividência sonambúlica, esta ocorre em razão da aptidão que tem o Espírito de atravessar livremente a matéria e não precisar dos órgãos físicos para ver e/ou ouvir além do plano físico. Dizem os Mestres que no estado de crise, o Espírito se lembra de conhecimentos adquiridos em existências anteriores, embora de forma incompleta, acrescentando que “passada a crise, toda a lembrança se apaga e ele volta à obscuridade.” (LE, p. 431)

Asseveram ainda que “o sonâmbulo possui mais conhecimentos do que lhe reconheceis,” só que adormecidos pelo corpo. Reiteradamente dizem que revivemos inúmeras vezes, e perdemos “materialmente o que conseguimos aprender na existência precedente. Entretanto no estado de crise, ele se lembra embora de maneira incompleta, pois não saberia dizer de onde vem o conhecimento, nem como o possui. Passada a crise, toda a lembrança se apaga e ele volta à obscuridade.” (LE, p. 431) Tais explicações ‘casam’ com o caso do artista plástico britânico Lee Hadwin, (I) que só consegue desenhar enquanto está dormindo.

Adiante prosseguem esclarecendo, que o desenvolvimento da clarividência sonambúlica depende das condições físicas (de acordo com a medicina) que permitem ao Espírito libertar-se de forma mais natural da matéria. A esse respeito, Kardec indaga se o sonâmbulo que vê à distância, vê do lugar em que está seu corpo ou daquele que está a sua alma, isto porque muito comumente o sonâmbulo experimenta no corpo sensações de calor ou de frio do lugar em que se encontra a sua alma, às vezes bem longe do corpo. (LE, p. 436)

Reiteram os Mestres espirituais que é a alma que se transporta e vê, mas como não deixou por completo o corpo, “permanece ligada a ele pelo laço que os une, e é esse laço que os une, o condutor das sensações” (perispírito). (O Livro dos Espíritos - pergunta 437)

Daí a experiência do médico Luiz Otávio Zahar (II) quando relatava que “as luzes da academia estavam apagadas e não havia ninguém usando os aparelhos de musculação nem circulando pelos corredores. O médico percorreu o espaço de um lado para o outro, sentindo-se absolutamente consciente. Mas seu passeio noturno, segundo Zahar, tinha uma peculiaridade: ele via tudo do alto, como se estivesse suspenso, flutuando”. Ou seja, o Espírito do médico libertou-se até a academia de ginástica, conferindo todo o ambiente do jeito em que estava fechada, com as luzes apagadas e totalmente deserta, em razão do horário (madrugada).

Em O Livro dos Médiuns o sonambulismo é tratado como uma variedade da faculdade mediúnica na qual, ocorrem duas ordens de fenômenos que freqüentemente se agregam. A ação do sonâmbulo quando está sob o domínio do próprio Espírito nos momentos de emancipação. Nesse caso, o que vê, ouve e percebe além dos limites dos sentidos, é oriundo dele mesmo (caso do desenhista e do médico).

Não obstante em outras circunstâncias, o sonâmbulo “serve de instrumento a outra inteligência. É passivo e o que diz não é dele. Em resumo; o sonâmbulo exprime o seu próprio pensamento e o médium exprime o pensamento do outro. Mas o Espírito que se comunica através de um médium comum pode fazê-lo por um sonâmbulo. Freqüentemente mesmo o estado de emancipação da alma, no estado sonambúlico, torna fácil essa comunicação.” (O Livro dos Médiuns - Cap. XIV, 172)

“Aqui aplicar-se-ia perfeitamente o relato do contador Fernando Augusto Golfar (III), quando afirma vivenciar o fenômeno sonambúlico (que denomina projeções) desde os 6 anos, quando contava aos pais episódios vivenciados por ‘parentes já mortos” com os quais falava durante as experiências e “visões de lugares que lembrava ter visto dias antes de visitá-los com a família“.

A Doutrina Espírita estabelece que a faculdade sonambúlica seja uma faculdade que depende do organismo e nada tem que ver com a elevação, o adiantamento e a condição moral do sujeito. Um sonâmbulo pode, pois, ser muito lúcido e incapaz de resolver certas questões, se o seu Espírito for pouco adiantado. (O Livro dos Médiuns - Cap. XIV, 174) 

Portanto, para o Espiritismo o fenômeno de “emancipação da alma”, pode ser ocasionado pelo sono, ou provocado magneticamente pelo "fluido vital, eletricidade animalizada que são modificações do fluido universal". (LE. 427) Tal fenômeno depende de uma condição orgânica do indivíduo que possibilita a liberação do Espírito, que se mantém ligado ao corpo físico pelo perispírito.

No que concerne às percepções do mesmo, poderão advir como lembranças confusas e incompletas, ou mesmo nenhuma lembrança. Segundo os Espíritos Superiores, “nos sonhos de que se tem consciência, os órgãos inclusive da memória, começam a despertar e recebem imperfeitamente as impressões produzidas pelos objetos ou as causas exteriores” (...). (LE, p. 425)

Para finalizar, pode-se concluir que o sonambulismo permite a clarividência quando o Espírito do sonâmbulo atravessa livremente os corpos opacos, podendo alcançar longas distâncias. Pode ser considerada como uma modalidade de mediunidade, quando o sonâmbulo em crise entra em contato com Espíritos, podendo vê-los e/ou ouvi-los. Para aqueles que pretendam uma melhor compreensão do assunto, exige-se obviamente um estudo aprofundado das Obras Fundamentais da Doutrina Espírita juntamente com a Revista Espírita.

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