sábado, 24 de março de 2012

O Melancólico Plágio


Por Nazareno Tourinho

Na página 430 do Volume 1 de Os Quatro Evangelhos (6ª edição, feita pela FEB) os “guias” de J. B. Roustaing escreveram o seguinte, referindo-se a uma lição de Jesus:

“Essas palavras do Mestre são o seguimento do que explicamos no nº 78. Não basta ao homem abster-se do mal, cumpre-lhe praticar o bem.”

Temos aqui um escandaloso plágio.

Plágio, como certamente o leitor não ignora, é a apropriação indevida que um autor faz da ideia de outro, apresentando-a como se fosse sua.

Se tivessem honestidade, os “protetores” de Roustaing diriam:

Como foi revelado a Allan Kardec, não basta ao homem abster-se do mal, cumpre-lhe praticar o bem.”

Assim se expressariam porque já em 1857, quase dez anos antes do lançamento de seus Evangelhos apócrifos, em 1866, no primeiro tomo da Codificação, O Livro dos Espíritos, figura tal ensinamento.

Eis o inteiro teor da pergunta nº 642 do supracitado volume, e a respectiva resposta:

“Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?

“Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo o mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”

A custa desse expediente desprezível, apossando-se de algumas ideias originais da codificação kardequiana sem confessar isso, Roustaing conseguiu tornar sua obra mais aceitável por uns poucos espíritas ainda presos aos condicionamentos católicos, herdados de outras encarnações. Estes companheiros místicos costumam, quando defendem o roustainguismo, dizer que o mesmo nos oferta muitas coisas boas. O que não falam é que as coisas boas a nós oferecidas foram retiradas espertamente dos livros de Kardec. E omitem o fato de que entre tais coisas boas existem teses lesivas aos superiores interesses do Espiritismo, porque em nível filosófico conflitam com os fundamentos da doutrina (como, por exemplo, a teoria de que a encarnação é um castigo e não uma necessidade).

Em razão disso a obra de Roustaing deve ser esquecida pela FEB, única Entidade em todo o mundo que a prestigia, estudando-a por força de um dispositivo estatutário, reeditando-a sempre e fazendo dela constante propaganda, de modo ostensivo ou subliminar, se é que a FEB deseja, nos tempos modernos, permanecer na liderança do nosso movimento ideológico, cuja unificação só é possível com absoluto respeito à insuperada mensagem espiritual claramente exposta por Allan Kardec. 

Fonte:
TOURINHO, Nazareno.  As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.

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