segunda-feira, 19 de março de 2012

Magnetismo nos tempos modernos - O Passe


Por Maria Ribeiro

À medida que o homem se intelectualiza, sua vaidade pelo muito saber o torna orgulhoso de si mesmo; então passa a negar tudo e, da mesma forma cega que antes aceitava as crenças mais absurdas, o faz repelir agora ideias sem exame e sem critérios.

Passe é nome dado ao procedimento de transmissão energética, que sob o nome de magnetismo, foi estudada pelo eminente cientista Mesmer, cujos efeitos são conhecidos desde tempos remotos por várias crenças. Conhecido em outras correntes espiritualistas, não necessariamente obedecendo às mesmas dinâmicas, diz-se que o passe é um poderoso método terapêutico. 

Esta transmissão energética se dá através do que Kardec chamou de magnetismo comum, onde tanto pode ocorrer um efeito rápido quanto lento exigindo algumas aplicações durante sessões continuadas. Esta é a maneira comumente empregada nas salas de passe. Nas entrelinhas, Kardec diz que todos têm este poder, chama-o magnetismo humano cuja ação depende da potência e da qualidade imprimida aos fluidos do magnetizador, ou na linguagem geralmente utilizada - do médium passista, ou simplesmente passista.

A segunda forma descrita por Kardec é o magnetismo espiritual, ou seja, fluido dos Espíritos, cuja atuação é “direta e sem intermediário sobre um encarnado, seja para curar ou acalmar um sofrimento, seja para provocar o sono sonambúlico espontâneo, seja para exercer sobre o indivíduo uma influência física ou moral qualquer” , e as qualidades destes fluidos dependem das do Espírito atuante.

O magnetismo misto, ou semi-espiritual ou humano-espiritual trata-se da mistura dos fluidos dos Espíritos com os da pessoa que faz as vezes de magnetizador.

Kardec ainda esclarece que é possível desenvolver a faculdade de curar pela influência fluídica; e ainda acentua “que estas espécies de curas repousam sobre um princípio natural”( item 34 – cap. XIV)

No capítulo seguinte o insigne Mestre lionês trata dos milagres descritos nos Evangelhos, e o subtítulo - Curas - se repete, desta vez para ilustrar com exemplos práticos o que anteriormente descrevera teoricamente. 

Sobre a cura da mulher hemorroíssa ele conclui: 

“A irradiação fluídica normal foi suficiente para operar a cura”, não tendo ocorrido magnetização nem imposição de mãos, ou seja, a energia não foi conscientemente dirigida para aquela mulher, mas ela mesma a atraiu. “ O fluido, sendo dado como matéria terapêutica, deve atingir a desordem orgânica para reparar, pode ser dirigido sobre o mal pela vontade do curador ou atraído pelo desejo ardente, a confiança, numa palavra, a fé do doente.(...) a fé não é a virtude mística, como certas pessoas entendem, mas uma verdadeira força atrativa...” 

Em outras palavras, o enfermo desejoso de restaurar a saúde, cria para si um campo receptivo para fluidos que o possam beneficiar. Os mecanismos por que isto se opera fogem à observação, uma vez que não se tem uma ciência espírita. Os equipamentos atuais de diagnóstico por imagem talvez pudessem auxiliar se houvesse grupos interessados em captar processos como o que se descreveu, aí poder-se-ia comprovar cientificamente o que apenas por deduções mais ou menos lógicas se arrisca a afirmar.*

A visão do cego de Betsaida foi restituída gradualmente, não porque Jesus não pudesse fazê-la espontânea, mas talvez por causa das circunstâncias, ou porque quisesse fazer observar que nem tudo ocorre no tempo que a criatura quer, pois precisa aprender a esperar e esperar com paciência e a mesma fé ardente, sem esmorecer. 

Curas existem, é fato comprovado pela Doutrina Espírita nas sábias palavras do seu Codificador. Se a Medicina ainda não reúne objetos que possam corroborar com a teoria Espírita, é necessário aguardar que o tempo lhe amadureça as sementes.

Bem, dizer que é possível realizar curas através das ações magnéticas é diferente de acreditar que elas possam ocorrer a todo o momento e com todas as pessoas. Se assim fosse, a justiça Divina estaria impedida de atuar, já que independentemente das circunstâncias, sempre haveria cura para qualquer mal físico, desde o resfriado até a aids. Só a ingenuidade e a superstição, somadas ao desconhecimento do Espiritismo, depositam fé neste frenesi.

Procedimentos como: pedir que a pessoa que vai receber o passe estenda as mãos (geralmente sobre os joelhos); pedir que feixe os olhos ou que se concentre, ou que pense em Jesus; oferecer indiscriminadamente a água fluida após o passe; realizar manobras extravagantes como crepitar de dedos; excessivo sincronismo entre os passistas, só tornam uma medida que é toda natural, num espetáculo perfeitamente dispensável.

Analise-se: as pessoas que se submetem a entrar na sala de passe devem ser previamente advertidas que o barulho interfere na concentração. Pressupõe-se que os que queiram receber algum benefício certamente vão pensar em Jesus e pedir com fervor intimamente. Benefício que virá independente da posição em que estejam as mãos; se não vier, será por outras razões. O fato de os passistas iniciarem ao mesmo tempo faz com que algum deles fique esperando que os outros terminem; o objetivo é que  as pessoas saiam ao mesmo tempo diminuindo o tumulto.(?) Mexer os dedos como se expulsasse os “maus fluidos” ou “fluidos pesados” é materializar demais a coisa. Oferecer água fluida a todo mundo após o passe, além de banalizar algo muito sério, evidencia que nem todos conseguem se libertar facilmente dos ritualismos. 

Acrescente-se a isto, a recomendação da abstenção de alimento animal, com ênfase para a carne, pois, dizem, ela interfere negativamente nos fluidos do doador. Bem, por ser um entendido na questão do magnetismo, Kardec revelou mais interesse em se ocupar com detalhes realmente importantes, preferiu optar pela lógica – fluido é fluido, matéria é matéria, e deixou para os Espíritos zombeteiros a tarefa de brincar com a fé deslumbrada dos incautos.

Diante do exposto, percebe-se que o estudo sério e continuado da Doutrina dos Espíritos têm estado ausente no movimento espírita. É possível constatar que pretensos estudiosos incorrem em erros primários sobre muitos pontos, inclusive sobre este, e teimam em querer impor visão particular desprovida de respaldo doutrinário, o que acaba fazendo que adquiram discípulos, tão mal informados quanto eles mesmos.


Artigo baseado nos capítulos XIV e XV de A Gênese.

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