segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A Vida no Espaço

Por Léon Denis

Segundo as diferentes doutrinas religiosas, a Terra é o centro do Universo e o céu estende-se como abóbada sobre nós. É na sua parte superior, dizem, que está a morada dos bem-aventurados; o inferno, habitação dos condenados, prolonga suas sombrias galerias nas próprias entranhas do globo.

A ciência moderna, de acordo com o ensino dos Espíritos, mostrando-nos o Universo semeado de Inumeráveis mundos habitados, deu golpe mortal nessas teorias.

O céu está por toda parte; por toda parte, o incomensurável, o insondável, o infinito; por toda parte, um fervilhamento de sóis e de esferas, entre as quais o nosso planeta é apenas mesquinha parcela.

No meio dos espaços não existem moradas circunscritas para as almas. Tanto mais livres quanto mais puras forem, estas percorrem a imensidade e vão para onde as levam suas afinidades e simpatias. Os Espíritos inferiores, sobrecarregados pela densidade de seus fluídos, ficam ligados ao mundo onde viveram, circulando em sua atmosfera ou envolvendo-se entre os seres humanos.

As alegrias e as percepções do Espírito não procedem do meio que ele ocupa, mas de suas disposições pessoais e dos progressos realizados. Embora com o perispírito opaco e envolto em trevas, o Espírito atrasado pode encontrar-se com a alma radiante cujo invólucro sutil se presta às delicadas sensações, às mais extensas vibrações. Cada um traz em si sua glória ou sua miséria.

A condição dos Espíritos na vida de além-túmulo, sua elevação, sua felicidade, tudo depende da respectiva faculdade de sentir e de perceber, que é sempre proporcional ao seu grau evolutivo.

Aqui mesmo, na Terra, vemos os gozos intelectuais aumentarem com a cultura do espírito. As obras literárias e artísticas, as belezas da civilização, as concepções sublimes do gênio humano são incompreensíveis ao selvagem e também a muitos dos nossos concidadãos. Assim, os Espíritos de ordem inferior, como cegos no meio da natureza resplandecente, ou como surdos em um concerto, permanecem Indiferentes e insensíveis diante das maravilhas do Infinito.

Esses Espíritos, envolvidos em fluídos espessos, sofrem as leis da atração e são inclinados para a matéria. Sob a Influência dos apetites grosseiros, as moléculas do seu corpo fluídico fecham-se às percepções externas e os tornam escravos das mesmas forças naturais que governam a Humanidade.

Não há que insistir neste fato, porque ele é o fundamento da ordem e da justiça universais.

As almas colocam-se e agrupam-se no espaço segundo o grau de pureza do seu respectivo invólucro; a condição do Espírito está em relação direta com a sua constituição fluídica, que é a própria obra, a resultante do seu passado e de todos os seus trabalhos. Determinando a sua própria situação, acham, depois, a recompensa que. merecem. Enquanto a alma purificada percorre a vasta e fulgente amplidão, repousa à vontade sobre os mundos e quase não vê limites ao seu vôo, o Espírito impuro não pode afastar-se da vizinhança dos globos materiais.

Entre esses estados extremos, numerosos graus permitem que Espíritos similares se agrupem e constituam verdadeiras sociedades do invisível. A comunhão de sentimentos, a harmonia de pensamentos, a Identidade de gostos, de vistas, de aspirações, aproximam e unem essas almas, de modo a formarem grandes famílias.

Sem fadigas, a vida do Espírito adiantado é essencialmente ativa. As distâncias não existem para ele, pois se transporta com a rapidez do pensamento. Seu Invólucro, semelhante a ténue vapor, adquiriu tal sutileza que o torna Invisível aos Espíritos inferiores. Vê, ouve, sente, percebe não mais pelos órgãos materiais que se interpõem entre nós e a Natureza, mas, sim, diretamente, sem intermediário, por todas as partes do seu ser. Suas percepções, por isso mesmo, são muito mais precisas e aumentadas que as nossas. O Espírito elevado desliza, por assim dizer, no seio de um oceano de sensações deliciosas. Constante variedade de quadros apresenta-se-lhe à vista, harmonias suaves acalentam-no e encantam; para ele, as cores são perfume, são sons. Entretanto, por mais agradáveis que sejam essas impressões, pode subtrair-se a elas, e, se lhe aprouver, recolher-se-á, envolvendo-se num véu fluídico e insulando-se no seio dos espaços.

O Espírito adiantado está liberto de todas as necessidades materiais. Para ele, não têm razão de ser a nutrição e o sono. Ao abandonar a Terra, deixa para sempre os vãos cuidados, os sobressaltos, todas as quimeras que envenenam a existência corpórea. Os Espíritos inferiores levam consigo para além do tümulo os hábitos, as necessidades, as preocupações materiais. Não podendo elevar-se acima da atmosfera terrestre, voltam a compartilhar a vida dos entes humanos, intrometem-se nas suas lutas, trabalhos e prazeres. Suas paixões, seus desejos, sempre vivazes e aguçados pelo permanente contacto da Humanidade, os acabrunham; a impossibilidade de os satisfazerem torna-se para eles causa de constantes torturas.

Os Espíritos não precisam da palavra para se fazerem compreender. O pensamento, refletindo-se no perispírito como imagem em espelho, permite-lhes permutarem suas idéias sem esforço, com uma rapidez vertiginosa. O Espírito elevado pode ler no cérebro do homem e conhecer os seus secretos desígnios. Nada lhe é oculto. Perscruta todos os mistérios da Natureza, pode explorar à vontade as entranhas do globo, o fundo dos oceanos, e assim apreciar os destroços das civilizações submersas. Atravessa os corpos por mais densos que sejam e vê abrirem-se diante de si os domínios impenetráveis à Humanidade.

Fonte:

DENIS, Léon. Depois da Morte: explicação da doutrina dos espíritos: solução científica e racional dos problemas da vida e da morte; Natureza e destino do ser humano; as vidas sucessivas/Léon Denis; Tradução de Maria Lucia Alcantara de Carvalho. - 3 ed. - Rio de Janeiro: CELD, 2008.

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