quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Ninguém morre antes da hora? - Parte II

Por Carlos Augusto Parchen

Tenho recebido diversas perguntas, questionamentos e apoios, através do e-mail, sobre o artigo que escrevi "Ninguém morre antes da hora?" (ver o artigo original)

Algumas das pessoas que me escreveram, discordam de nossa posição, e afirmam que existe sim uma hora pré-determinada para a morte de cada um, pois afinal de contas "...nada acontece sem a vontade de Nosso Pai que está nos Céus...".

Uma pessoa, também colocando isso, baseou-se ainda na mensagem psicofônica de um jovem recém-desencarnado, que afirmou: "... assim como temos nossa certidão de nascimento, no dia e hora determinado por Deus, temos nossa hora de partir...".

Essas afirmações são verdadeiras sim, desde que devidamente contextualizadas.

Nada acontece sem que a Vontade Divina o queira, pois o Criador estabeleceu as Leis Universais, perfeitas e justas, e tudo ocorre de acordo com essas Leis.

E as Leis são tão perfeitas que Deus nada mais precisa fazer para que elas se concretizem. Sua vontade já está manifesta na Lei. E uma das Leis Divinas é a que nos dá o Livre Arbítrio.

Quanto a termos "...nossa hora de partir..." , isso é fundamentalmente uma verdade pois, obrigatoriamente, temos que partir do corpo físico (morte ou desencarnação), e isso está estabelecido desde o momento que reencarnamos (nascemos), pois a única certeza de que temos, é que enfrentaremos "a hora da morte". Mas em nenhum momento isso significa que temos uma hora ou "a hora" (dia, local, forma, etc.) para morrer.

No caso do espírito comunicante que fez a afirmação já citada, este narra, em sua mensagem psicográfica, que na encarnação anterior cometeu suicídio, com um tiro na cabeça. É evidente que esse espírito, nessa ocasião, morreu antes da hora, pois se não fosse assim, teria nascido com a "missão" (predestinação) de suicidar-se, o que seria um absurdo completo; o livre-arbítrio teria deixado de existir.

Na encarnação seguinte, morreu de um tumor no cérebro, fruto do registro cármico do suicídio. Mesmo assim, poderia ter morrido mais cedo ou mais tarde, de acordo com a vida "física" e "espiritual" que praticava, ou ainda, ter morrido atropelado naquele ponto de ônibus que usei no exemplo, no artigo em tela, sem ter ligação nenhuma com o problema do tumor cerebral.

Afirma o jovem que a sua morte foi única e exclusiva culpa sua, o que neste caso está corretíssimo, pois optou pelo suicídio numa vida e, em conseqüência, "optou" pela doença na outra encarnação. No entanto, sem sombra de dúvida, além do fato de que desenvolveria a doença cerebral, nada lhe estava predestinado, muito menos o dia, a hora e nem mesmo a forma de sua morte, pois poderia ter morrido de outra causa muito antes da doença atingir o estado terminal.

Temos que refletir sobre o fato, usando a lógica, a razão e o bom-senso que nos recomendou Kardec que, se todas as mortes violentas (e mesmo as "naturais") estiverem programadas, o livre arbítrio não existiria no mundo.

Para exemplificar tomemos um fato real, recente, que foi noticiado nos jornais e na televisão: um rapaz bêbado, dirigindo um veículo, perdeu o controle do mesmo numa curva, subiu na calçada e atropelou 12 estudantes na saída de uma escola, e sete deles morreram.

Você já imaginou que se essas sete crianças que morreram, mais as cinco que ficaram feridas (algumas muito gravemente) "precisassem" passar por isso, que isso lhes estivesse predestinado, numa "programação reencarnatória", que descomunal trabalho de "manipulação" das pessoas e da natureza o plano espiritual teria tido?

Necessitaria, por parte do "Plano Espiritual" um trabalho minucioso para que todas essas crianças, que "deveriam" ser atropeladas, fossem matriculadas na mesma escola, no mesmo turno, e para isso teriam que ter vagas reservadas, teriam que morar todas próximo aquela escola ou terem recursos financeiros para pagar o transporte escolar.

Seria necessário "programar" todos os professores, no dia do atropelamento, para que liberassem todas as crianças das salas de aula ao mesmo tempo, e mais difícil ainda, "tangê-las" (sim, a analogia com o gado é verdadeira) em conjunto, para que todas elas saíssem juntas pelo portão.

Para complicar, os amigos (amigos????) espirituais deveriam organizar as crianças para que todas estivessem reunidas na posição "certinha" e exata para o carro lhes atropelar.

Simultaneamente, outra "equipe espiritual" estaria executando o hercúleo e gigantesco trabalho de separar todas as crianças que "não deveriam" ser atropeladas (mais gado tangido?), impedindo que saíssem pelo portão e/ou fazendo com que não ficassem no lugar em que pudessem ser atropeladas pelo veículo.

Além disso necessitariam cuidar que para o "atropelador" inicialmente ficasse bêbado (vai que ele não queria beber naquele dia !!!), e que saísse com seu veículo no horário exato, que todo o trânsito da cidade fosse controlado (afinal, ele não pode atrasar), de modo a permitir que ele pudesse estar na velocidade certa, calculada com muita precisão, e ainda que entrasse na curva com o ângulo e trajetória certa para atingir só os que "precisam ser atropelados".

Tudo isso necessitaria ter um ajuste temporal de milésimos de segundo, pois um átimo mais tarde, várias crianças teriam se movido do lugar, impossibilitando o "correto atropelamento".

Se tudo isso fosse possível, creio que o(a) leitor(a) concordaria comigo que quem dirigia o carro não era o motorista, mas sim "a vontade divina", e que as crianças foram colocadas propositadamente para morrer, como num "pelotão de fuzilamento". Nesse exemplo, não existiria o livre-arbítrio, e o que é pior, o determinismo seria absoluto. Todos estaríamos sendo "dirigidos" por invisíveis mãos, as do destino pré-determinado.

O amigo Orson lembrou um caso acontecido em Bauru-SP, alguns anos atrás, onde um pequeno avião fez um pouso forçado numa rua do subúrbio, percorreu longa distância pela rua e "atropelou" uma moça que estava sozinha no final da rua, a qual morreu instantaneamente, única vítima do acidente.

Alguém de bom-senso e utilizando a lógica e a razão poderia admitir que esta morte estava "programada", para aquele dia e horário, e que na falta de um carro a "espiritualidade deu um jeito", provocando a pane num avião? Que se cuidou para que ninguém mais estivesse na trajetória percorrida pela aeronave? Que se "organizou" a vida da moça para que estivesse naquele exato lugar, no exato momento que um avião ia fazer o pouso de emergência. Que se fez o avião "pifar" no exato lugar e condições para que aquele pouso de emergência ocorresse? Se assim fosse, existiria livre arbítrio? Para que existiríamos?

E as pessoas que sobrevivem a graves desastres onde várias outras morreram, foram "escolhidas" e "protegidas" para não morrerem? Se admitirmos que isso é verdade, o poder da vida e da morte (portanto, do destino) estaria nas mãos do "plano espiritual", a quem caberia "fazer" os desastres acontecerem, determinar quem deveria morrer e quem deveria sobreviver, baseado numa suposta "programação reencarnatória". Desapareceriam as responsabilidades dos "supostos" causadores ou responsáveis materiais dos problemas, dos acidentes e desastres, das mortes, pois apenas estariam dando cumprimento e seguimento a uma "programação divina", sem possibilidades outras que não cumprir o destino, o que estava escrito, o que estava determinado. Seríamos infelizes marionetes.

Desculpe o(a) leitor(a) pelo tom de ironia nos parênteses e "entre aspas" colocado, mas meu objetivo é enfatizar, e se preciso, até mesmo "chocar". Não sou e nem pretendo ser "dono da verdade", mas procuro seguir os postulados de Kardec, e prefiro errar pelo excesso do que pela omissão. Mas sempre utilizando a lógica e a razão.

Lamento apenas o pensamento fatalista e determinista de alguns espíritas.

Se as mortes violentas estivessem realmente programadas, seríamos todos meros "robôs" do destino. Não haveria "culpas" nem "responsabilidades". Os assassinos nasceriam para matar, portanto não seriam culpados, e pelo contrário, seriam instrumentos da "Justiça Divina".

Se mortes violentas e assassinatos ocorressem pela "Vontade Divina" ("....nada acontece sem a vontade de Deus"...), estaríamos diante de um "deus" cruel e vingativo (o do Antigo Testamento).

Recordemos-nos, no entanto, que em O Livro dos Espíritos e no restante das Obras Básicas da Codificação, o que se vê, princípio peremptório, é que o Livre Arbítrio, atributo básico do espírito, é inviolável.

Portanto, nessa "equação" entre o bem, o mal, a vida e a morte, tudo está relacionado e decorrente da utilização de nosso livre arbítrio, onde temos inclusive a possibilidade de mudar a vida, a duração ou até mesmo a época da morte nossa e de outras pessoas. E por isso assumimos responsabilidades.

Infelizmente, muitos espíritas interpretam mal as Obras Básicas, não as estudam adequadamente, em seu conjunto. Não procuram utilizar o bom senso, o raciocínio, a lógica e a razão, como tão bem nos preconizou o mestre Kardec.

Sigamos o que disse o Mestre Jesus: "Conheceis a Verdade, e a Verdade Vos Libertará". E como, analogicamente, complementou Kardec – "...Espíritas, amai-vos e instruí-vos...".

Com humildade e dedicação, busquemos a Verdade. A que nos é possível agora, mas que nos abrirá adiante a porta da felicidade e da Verdade Maior.

2 comentários:

  1. adoro ler,falar sobre desencarnar[morte]e muito bom preparar-se para a partida que todos nós um dia iremos fazer pois aqui e so uma passagem muito rapita,como vivemos tbém moremos?

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  2. vamos aprender mais sobre vida e morte,pois e a maior realidade

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