domingo, 26 de dezembro de 2010

Da Pena de Talião à Misericórdia da Lei

Por Amilcar Del Chiaro Filho

Houve uma época em que o mundo viveu sem lei e sem ordem, e o fraco, o pobre, era completamente desvalido. O rico, o forte, o poderoso fazia o que queria e ninguém ousava contrariá-los. Foi neste ambiente que Moisés implantou no seio do povo judeu a Pena de Talião, conhecida como o olho por olho, dente por dente. Hoje, o rigor desta lei nos parece excessiva, mas com certeza foi abençoada por muitos, que viram nela a esperança de justiça.

Promulgada por Moisés, em nome de Deus, imperou por milênios, até que o Evangelho de Jesus veio substituir a dureza da lei, impiedosa, pela suavidade do perdão, do amor, da compaixão.

Até a vinda de Jesus predominavam as doutrinas secretas que exigiam iniciação e graus iniciáticos que dosavam o conhecimento. Quando Jesus de Nazaré expirou na cruz, o véu do Templo rasgou-se de alto a baixo, significando que os conhecimentos já não seriam mais secretos, mas que estariam ao alcance de todos. Os graus passaram a ser o da capacidade de entendimento de cada indivíduo.

É exatamente sobre a capacidade de entendimento pessoal que queremos falar. Paulo de Tarso escreveu a uma das igrejas fundadas por ele: "Leite vos dei a beber; não vos dei comida, porque ainda não podíeis. Porém, ainda agora não podeis". O que ele quis dizer claramente é que nem todos estão capacitados a entender as coisas do espíritos, por isso procuram nas religiões as coisas materiais de que necessitam. São crianças que só suportam o leite, ou as histórias da Carochinha, próprios para embalar o sono infantil.

Igrejas existem onde se faz promessas em troca dos favores dos céus, ou se acredita na magia do sangue ou do nome de Jesus. Como muitos espíritas vieram dessas igrejas, é possível ver distorções doutrinárias, devido ao formalismo igreijeiro, por estarem nas mesmas condições dos cristãos da igreja de Corintho, a que Paulo admoestou, porque seus estômagos suportam somente o leite destinado ao entendimento infantil.

Esta situação é visível nos centros espíritas quando se compara o comparecimento às reuniões de estudos com as de passe ou de consultas com os guias. É por isso que parte dos espíritas são embalados por contos fabulosos, comunicações extravagantes, excentricidades de alguns médiuns e guias espirituais.

Mas já é tempo dos espíritas que ainda se satisfazem com o leite destinado às crianças, preparem seus estômagos para receber o manjar sólido da verdade e do conhecimento espírita, que na verdade não se destina a curar corpos perecíveis que um dia terão que morrer, mas destina-se, especialmente, ao espírito imortal na sua caminhada fabulosa em busca da perfeição.

O Espiritismo é uma doutrina viril, destinada a equacionar os grandes problemas humanos, e não uma coisa amorfa de beatos rezadores a pedir, pedir e pedir, sempre e insaciavelmente.

Em nossas preces, pedimos sim, o auxílio superior para o nosso discernimento, para a solução de grandes problemas. Pedimos forças, coragem e a luz do entendimento.

Se Paulo de Tarso voltasse hoje à Terra, verificaria que grande parcela dos cristãos continua se alimentando do leite das cabras, incapazes de suportar o alimento sólido, representado pela Doutrina Espírita. Entre os espíritas, constataria que muitos ainda se apegam às cabras celestes em busca do leite da inocência, ou do comodismo.

A Doutrina Espírita é uma das poucas capaz de acompanhar as rápidas mudanças do mundo, mas para isto é preciso digerir os alimentos sólidos do conhecimento espírita e abandonar o leite da ilusão.

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