quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Kardec e a Filosofia Espírita

Por Rita Foelker

Pensar sobre a vida é um costume antigo como a própria Humanidade.

O ser humano sempre buscou saber porque existe, de onde veio e para onde vai, o que está fazendo neste planeta e qual o significado de tudo o que vê no Universo.

Esta necessidade de entender o mundo e a vida foi o que deu início ao que hoje chamamos FILOSOFIA.

A Filosofia começou com alguns gregos que não aceitavam as explicações mitológicas para estas questões importantes e propunham o uso da razão para encontrar respostas melhores. Segundo Herculano Pires(1), Pitágoras (570 a.C. - Aprox. 500 a.C.) é quem mais propriamente representa o nascimento da Filosofia, seguido pela escola de Mileto, de Tales e Anaximandro.

O exercício do pensar destaca vários expoentes na História do nosso planeta, como Sócrates, Platão, Abelardo, Descartes e Kant.

Vamos relembrar alguns trechos em que Allan Kardec explicita seu pensamento a respeito da Filosofia Espírita.

Seria fazer uma idéia muito falsa do Espiritismo acreditar que sua força vem das manifestações materiais e que, impedindo essas manifestações, pode-se miná-lo em sua base. Sua força está na filosofia, no apelo que faz à razão, ao bom senso. (Allan Kardec em "O Livro dos Espíritos" - Conclusão.)

O Espiritismo, definido como fé raciocinada, reconhece a importância do desenvolvimento da habilidade de pensar logicamente e de refletir filosoficamente, de confrontar argumentos, concordar ou discordar, como se verifica neste trecho:

Acrescentamos que um estudo de uma doutrina, como a Doutrina Espírita, que nos lança de repente e em cheio numa ordem de coisas tão novas e grandiosas, somente pode ser feito por homens sérios, perseverantes, isentos de prevenções e movidos por uma firme e sincera vontade de chegar a um resultado esclarecedor. Não podem ser considerados assim os que julgam, a priori, levianamente e sem ter visto tudo; que não dão a seus estudos nem a seqüência, nem a regularidade, nem a cautela necessária... (O Livro dos Espíritos, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, Item 8)

E ainda neste:

Ora, o Espiritismo, que toca nas mais graves questões da Filosofia, em todos os setores da ordem social, que abrange ao mesmo tempo o homem físico e o homem moral, é em si mesmo toda uma Ciência, toda uma Filosofia, que não podem ser adquiridas em apenas algumas horas. (O Livro dos Médiuns, 1ª parte, Cap. 2: Do maravilhoso e do sobrenatural.)

E com que finalidade? Sigamos com Kardec:

Para os que compreendem o Espiritismo filosófico e nele vêem além dos fenômenos mais ou menos curiosos, os efeitos são outros. O primeiro, e mais geral, é de desenvolver o sentimento religioso até mesmo naquele que, sem ser materialista, sente apenas indiferença pelas coisas espirituais. (...) O segundo efeito, quase tão geral quanto o primeiro, é a resignação nas alternâncias da vida. (...) O terceiro efeito é estimular no homem o perdão e a tolerância para com os defeitos dos outros. (Allan Kardec em "O Livro dos Espíritos" - Conclusão.)

Para Kardec, a força do Espiritismo é sua filosofia e suas maiores conseqüências são para aqueles que estudam e buscam a compreensão de seus princípios: nestes realmente ocorrem sensíveis transformações morais.

Aqueles que não compreendem nem estudam o Espiritismo filosófico encontram-se na posição definida por Herculano Pires no trecho abaixo:

Os adversários do Espiritismo desconhecem tudo a respeito [da concepção espírita da realidade] e fazem tremenda confusão. Os próprios espíritas, por sua vez, na sua esmagadora maioria estão na mesma situação. Por quê? É fácil explicar: Os adversários partem do preconceito e agem por precipitação. Os espíritas em geral fazem o mesmo: formularam uma idéia pessoal da Doutrina, um estereótipo mental a que se apegaram. A maioria, dos dois lados, se esquece desta coisa importante: o Espiritismo é uma doutrina que existe nos livros e precisa ser estudada. (Herculano Pires em "Introdução à Filosofia Espírita", Ed. Paidéia.)

Estas pessoas sérias, perseverantes, isentas de prevenções, motivadas para se esclarecerem não se formam da noite para o dia. O gosto pelo "pensar produtivo" necessita ser cultivado nos Espíritos, e não há idade mínima para isto.

Desde que se iniciam na fala, aos dois anos de idade, as crianças estão prontas para o desafio do pensar e do encontrar respostas. Não se trata de estudar os filósofos ou as teorias, nesta idade, mas de acordar o espírito investigativo, a curiosidade, de estimular a produção de hipóteses, ajudando-as a olharem para a realidade e para si mesmas com vontade de pensar a respeito e de aprender

Notas

1. Pires, Herculano - "Os Filósofos" - Ed. FEESP.