quarta-feira, 23 de junho de 2010

Reformar ou Estudar o Espiritismo?

Por Francisco Amado

Kardec era extremamente crítico quanto a tudo o que chegava em suas mãos. Antes de desencarnar ele mostrou como fez e deixou todo o método necessário para que a doutrina pudesse continuar evoluindo de maneira segura e confiável, tal como quando foi codificada. Todavia o que vemos nos dias atuais é o abandono de toda uma metodologia onde começaram a aceitar qualquer novidade para a doutrina, como se ela, a doutrina, tivesse que ser um "Almanaque Abril”, que precisa sempre de novidades e atualizações anuais para vender bem.

Disto, percebe-se com facilidade a popularidade de romance e mais romance com todo tipo de incoerência doutrinaria. Não sei se sou muito crítico, mas, na minha visão, é só parar e pensar um pouco que vocês vão ver que a Doutrina Espírita se transformou num dos maiores e mais rentáveis meios literários brasileiros.

Não existe por parte das editoras um compromisso sequer com a Doutrina, e sim com a venda de livros e com o lucro $$$. (Deixando claro que sou capitalista).

Ao se questionar algum autor ou titulo nas comunidades do Orkut ou em fóruns é com extrema facilidade que vozes lhe taxam como espírita fundamentalista, espírita ortodoxo. Na verdade já me informaram que eu era assalariado das trevas. Só que jamais vi meu contra-cheque, pois nem sabia que tinha direito a salário.(risos).

Mas, vamos esclarecer algumas mentiras ditas repetidamente e quando isso acontece, acaba por tornarem-se como verdades.

O que é um fundamentalista? É todo aquele que acredita em seus dogmas como verdade absoluta, indiscutível, sem abrir-se, portanto, à premissa do diálogo.
Outra falácia que adoram repetir é sobre a ortodoxia xiita que existe dentro de muitos espíritas e Casa Espírita. (leia somente Kardec “fora dele não há salvação” )
Espalham a mão cheia que os ortodoxos querem tirar Jesus do Espiritismo.
Os espíritas ortodoxos. Pensam que o conhecimento ESPÍRITA, deve ficar confinado ao conhecimento da espiritualidade ou da erraticidade do tempo de Kardec.

Onde está a falácia e o sofisma nestas afirmações? Ora, se sou ortodoxo, sei que a Doutrina Espírita busca a discussão e o debate, portanto coloca por terra a firmação de fundamentalista.

Seguindo neste contexto a leitura de todas as obras são recomendáveis, quando se critica uma obra não é com o objetivo de proibição, mas, antes, de apontar as incoerências doutrinárias.

Sobre tirar Jesus da doutrina. Não se tira Jesus do Espiritismo porque ele é claramente citado na codificação. Devemos respeitar Jesus no seu exato valor, mas nunca fazer dele um mito, um novo bezerro de ouro.

Se a codificação espírita informa que devemos avançar na busca de conhecimento e se os ortodoxos defendem esta mesma codificação, então, por conseqüência óbvia, os ortodoxos são os maiores interessados na ampliação de conhecimentos e busca de informações novas no meio espírita.

E justamente quando se levantam alguns contra toda esta prostituição da Doutrina Espírita, tentando voltar ao começo para que não se perca de vez o fio da meada, são taxados de retrógrados e desatualizados, xiitas e sectários, sendo que a única coisa que se pretende é mostrar a verdadeira beleza da doutrina como em seu principio, numa tentativa de não deixar que aconteça com ela o mesmo que aconteceu com o cristianismo primitivo.

A verdade é que, sem a formação doutrinária, não teremos um movimento espírita coeso e coerente. E, sem coesão e coerência, não teremos Espiritismo.

Como afirmou Kardec: “A crença nos Espíritos constitui sem dúvida a sua base, mas não basta para fazer um espírita esclarecido, como a crença em Deus não basta para fazer um teólogo.” No Espiritismo, a questão dos Espíritos está em segundo lugar, não constituindo o seu ponto de partida. E é esse, precisamente, o erro em que se cai e que acarreta o fracasso com certas pessoas.

Ortodoxia não quer dizer, segundo afirma o vulgo, uma espécie de "ferrugem de idéias" ou "idéias ultrapassadas". A ortodoxia significa a "doutrina correta", livre do pluralismo filosófico, das emendas orientalistas e esotéricas que querem dar ao Espiritismo.

Nos debates que participo no Orkut muitas vezes percebo que as coisas se distanciam do campo das idéias e parte para o pessoal, mas vejo também que muitos que discordam do meu posicionamento discordam 40%, poucos discordam 90% ou 100%.

Apesar de divulgar os livros de J. Herculano que é considerado por alguns erroneamente como o pai dos ortodoxos, não concordo quando ele afirma que a doutrina é religião. Religião lembra muito mais a manutenção da ignorância, da dificuldade de entendimento e do livre-pensamento e dos partidários das verdades incontestáveis, que todos devem se curvar (convertendo-se), sem questionamentos em busca da salvação.

Encarar o Espiritismo como uma nova religião só pode levar ao que estamos constatando. Um distanciamento ideológico do movimento espírita em relação ao pensamento de Allan Kardec e o afeiçoamento da ação dos espíritas a padrões confessionais e ritualísticos, velados ou explícitos, caracterizando um processo de sectarização do Espiritismo.

Dessa forma, as Casas Espíritas assumiram, ao longo do tempo, em sua esmagadora maioria, a feição de “casas de oração” e de “pronto socorro”, em detrimento de sua função maior de educadora de almas e libertadora de consciências, consoante os objetivos maiores do Espiritismo.

Como conseqüência tem aquele que procura o Centro unicamente para levar "água fluidificada" para casa e alguns mesmo pasmem-se, levam seus familiares para um "banho de ervas" aconselhado por um dirigente "espírita". Ora, nada temos contra quem é adepto da Umbanda, Candomblé, etc., mas confundir-se Espiritismo com tais denominações é, no mínimo, ignorância das obras básicas do Espiritismo.

O que o Espiritismo objetiva é a transformação interior das criaturas, para que se tornem mais esclarecidas e com isso, dotadas de mente mais arejada e coração mais puro. O que se pretende quando buscamos defender Kardec não é proibir ou decretar o que é certo ou errado e sim o que é Doutrina Espírita e o que é espiritualismo.

Kardec afirma, na introdução de "O Livro dos Espíritos," que a força do Espiritismo não está nos fenômenos, como geralmente se pensa, mas na sua "filosofia"

Para mim, a honestidade intelectual deve levar o indivíduo a tratar o Espiritismo como sério e ortodoxamente, porém esse é um processo de consciência íntima; se a ortodoxia e a seriedade foram a mola mestra dos Espíritos Superiores, ser sério ou ser ortodoxo é condição primeira de quem adere à Doutrina.

Já fui chamado de ortodoxo, mas eu não sou Ortodoxo, e não sou Kardecista. Eu sou apenas Espírita. E isto me basta. Pois, se digo que sou Espírita é porque sigo os princípios da doutrina espírita, e se eu sigo estes princípios conseqüentemente sou espírita. Agora se eu conheço a doutrina, aceito algumas partes mas não outras, eu seria espiritualista, e não espírita.

O ortodoxo sabe avaliar o místico, porque já foi um místico; mas o místico não pode avaliar o ortodoxo, porque nunca foi ortodoxo.

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