quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O Social e o Imortal em Chico Xavier

Por José Rodrigues

A passagem de Chico Xavier por este mundo deixa duas contribuições marcantes. No campo social e na investigação da imortalidade. Sem ser rico, contribuiu, pela literatura que veiculou, para farta redistribuição de renda no Brasil. Poucas pessoas, neste país e no mundo, terão tido tanta influência para que bens se transferissem de mãos, visando atingir estratos sociais inferiorizados. Uma peculiaridade da estrutura social brasileira, com das mais elevadas concentrações de renda do planeta, teve, no conteúdo da literatura e no exemplo pessoal do médium, farto apoio para se desenvolver. Uma prática compensatória, sem dúvida, sociologicamente combatida, sob o pressuposto de sua perenização, mas pelo menos discutível, tanto que também defendida por líderes, como Betinho, na sua luta contra a fome.

Se cerca de um terço da população brasileira estão abaixo da linha de pobreza e quase 50 milhões de pessoas encontram-se na faixa da indigência, há mesmo que se fazer transbordar a panela dos que têm para os despossuídos, até que medidas de maior alcance, especialmente no campo da educação, ajam no sentido do encurtamento das diferenças.

Os princípios de uma ética social, o sabemos, estão bem claros na obra também literária de Allan Kardec, afinal, a fonte da inspiração original de um conjunto de ações, inclusive dos espíritos, no chamado sentido do bem. Ainda assim, milhões, certamente, nunca leram, ou o fizeram sem maior aprofundamento filosófico, o texto kardequiano, ao contrário da literatura, a partir de simples mensagens de poucas linhas, retransmitidas por Chico Xavier. Talvez um trabalho silencioso, de tocar a emoção, o sentimento, provocando questionamentos íntimos e o ponto deflagrador de uma ação para além do círculo da casa e da família.

No da comprovação da imortalidade, sempre haverá aqueles que duvidam. Desde as materialização de Kate King, controladas pelo físico William Crookes, a academia emite sinais de desconfiança nas provas da continuidade da vida para além das formas físicas conhecidas. Além disso, brasileiros, de todos os níveis de conhecimento, deram pouquíssima ênfase a esse aspecto, ao contrário do filosófico e moral. Sem esquecer que vasto contingente estruturou uma carapaça religiosa, mística e paralisante, em torno da mediunidade e do que consideram Espiritismo.

As comunicações de espíritos, especialmente de jovens, numa fase da produção mediúnica de Chico Xavier, com informações de caráter exclusivo dos seus respectivos familiares, tiveram forte impacto de credibilidade. Para isto, como para todo o trabalho incansável do médium, tem peso específico sua estrutura moral, seu exemplo de vida. No mínimo, tem-se disponível muita substância para a investigação da imortalidade, são centenas de famílias que podem dar testemunho sobre o antes e o depois da morte de seus parentes.

Por fim e não menos importante, está a contribuição de um homem despojado, que elegeu o próximo como amigo, sem distinções. Diríamos que Francisco Cândido Xavier, nesse ministério de igualdade, antecipou a humanidade em alguns milhares de anos.

José Rodrigues, jornalista e economista, é um dos coordenadores do site Pense - Pensamento Social Espírita.

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